Invernia
Ei, querida, não busque apressar as
coisas quando elas ainda não estão prontas para serem efetuadas. Vá com calma.
Se for preciso (e acredito que seja), deite na sua cama, apague as luzes, feche
a porta (assim o isolamento será total) e chore. Permita que as lágrimas venham
em abundância, não prenda o soluço deixa-o romper o peito, a garganta, e chore,
apenas chore.
Haverá lembranças e elas te atormentaram
durante toda a noite. Eu sei, você queria esquecer os momentos, mas eles estão
ali, lado a lado em sua cama, sussurrando o quão difícil será esquecer o
inesquecível, fazendo lembrar que não importa o quanto o tempo passe, os dias
transcorram, as estações mudem, você simplesmente não esquecerá.
Chore, grite se preciso for. Permita que
a dor venha, afinal, mais cedo ou mais tarde ela baterá a porta e adentrará sua
casa. Chame-a de amiga. Troquem confidências. Tudo bem entregar os pontos, não
permitir ajuda, não aceitar os remédios. A dor está ali, ela sempre estará e
tudo bem. São apenas novas cicatrizes em um corpo já calejado. Você aguenta,
menina. Não importa o que digam, você suportará mais um abandono, mais um adeus
sem despedidas. A estrada, ainda que escura, já conhece teus passos.
Vai doer. Vai sangrar sempre que você
lembrar, e você lembrará diariamente. Você sonhará, eu sei que sim. E todos os
dias parecerá que você engoliu acido, pois a dor é insuportável. Mas tudo bem,
menina. Tudo bem doer, ser esquecida, jogada as traças, tudo bem. Você sobreviveu
à Julho, lembra? E suportará mais alguns meses de invernia.
Apenas, chore.
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