"Estou bem"
Pessoas perguntam se estou bem.
Pessoas amigas. Conhecidas. Pessoas que nunca
sequer, cumprimentei.
A todos afirmo, aceno, abro um largo e condescendente
sorriso e digo que estou bem, sem crises ou pensamentos negativos.
Eles acreditam. Eu sei que sim.
Enquanto isso, as noites se tornam mais longas e
escuras, trazendo a sensação de que o amanhã não surgirá entre as frestas da
janela. A dor, no entanto, não se esvai com a escuridão noturna. Ela aperta,
fortemente, sem intervalos de tempo, sem cessar. Sinto que não há força
suficiente que faça o ar voltar aos meus pulmões, ainda que eu tente, ainda que
eu respire, ainda que eu chore.
Um ansiolítico. Dois. Três...
E então a calmaria surge quase que imediata. Aos
poucos consigo controlar minha respiração e as lágrimas cessam, deixando
somente o alívio provocado por uma terrível tempestade. Durmo. Um sono sem
sonhos, perspectivas. Apenas apago da realidade e quando depois de horas,
finalmente acordo, lá está o vazio preenchendo o peito, mais uma vez.
É só uma questão de tempo, eu sei. As crises voltarão. A dor voltará. O vazio, ah, este no entanto é perene, fiel, companheiro diário de uma jornada fúnebre.
Mesmo assim, continuo. Sorrio. Ando. Até consigo gargalhar e eles acreditam que estou finalmente me curando. Finalmente voltando a ser quem eu era.
Eu estou bem. Eu estou feliz. Eu tenho perspectivas. E eles acreditam.
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