Desfiz meus escritos em dores...


Pai,
Tenho a sensação que a noite anterior foi o suficiente para dissipar o fio que me prendia a vida. A dor, antes suportável, passou a invadir cada molécula do meu corpo, adentrando em meu sangue, corroendo meus pulmões, esvaindo-se em lágrimas, gritos, soluços que abafei com o travesseiro. Eu caí, pai. Fui jogada ao chão e nele fiquei durante boa parte da noite, entre a dor e o medo de viver, encarar o que me esperava porta afora. Eu caí. Depois de quase três meses tentando diariamente não cair novamente, ontem eu caí e confesso-te que dessa vez, sim, dessa vez eu não terei forças para me levantar.
Ainda posso ouvi-lo. Sua rispidez, egoísmo assim como seu achismo foi um tanto quanto suficiente para fazer eternizar em mim dores que para sempre ficarão impregnados em minha alma. Dói, ainda dói. As lágrimas ainda descem, mesmo que eu as tente freá-las. Tudo dentro de mim resume-se a dor, angustia e uma absurda necessidade de já não mais existir, assim como você, pai, tanto pediu, ontem
A morte aliviaria, não é mesmo? A minha morte traria a tão desejada paz para vocês, em especial, para ti. Ver-me em um caixão, eternamente posta entre as raízes da terra faria com que todos se sentissem melhor, afinal, seria um peso a menos, uma preocupação, um incomodo.
Tanto você pediu, pai. Tanto você riu, minimizou, escarneceu. Você implorou para que eu os deixasse, pois somente assim a paz reinaria. Porém, você em momento algum refletiu sobre como aquilo tudo doía, sangrava, abria fundas e eternas cicatrizes em minha alma. Eu caí, pai. Eu caí e chorei. Eu me dopei para não ouvi-lo mais, mas principalmente por não agüentar mais a dor insuportável que alojava-se em minha alma. No chão, entre lágrimas, gritos mudos e a vontade de torna-me tão somente lembrança eu quis partir para longe. Eu ainda quero, pai.
Me perdoe por tudo. 

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