Dias de luz


Abri as portas, escancarei as janelas, limpei alguns cômodos (os mais importantes, confesso). Organizei os livros, alguns joguei fora, outros, no fundo do armário. Troquei o livro melancólico do criado mudo por um de poesia, Drummond para ser mais específica. E por fim rasguei todos os textos, poemas, todas as crônicas e contos, tudo foi para o fundo do balde de lixo, transformando-se numa remota lembrança.
Logo depois liguei o som, coloquei uma música alegre e pela primeira vez em meses, cantei. Não, não apenas cantei, mas deixei meu corpo sentir a melodia inebriante de uma boa música e dancei. No início confesso que foi meio aos trancos, desajeitada, mas logo depois pude sentir todo meu ser tomado pela canção e quando menos percebi, eu já fazia parte dela, da sua letra positiva, da sua agitação, dos contornos e adornos. Eu me permiti.
Sim, eu me permiti sentir a alegria do momento e todas as maravilhosas sensações que ela me proporcionava. Lá fora fazia sol e ele entrava pelas janelas, portas, corpo. Meu coração estava ensolarado e ele também dançava, sentia, batia em vibração. Estou viva. Sinto o vento, o cheiro das flores, o abraço daqueles que amo. E embora existam nuvens negras, há um sol, um belo e quente sol, para mostrar-me que sim, a noite acaba, as nuvens transformam-se em chuvas e eu, em recomeço.

Portanto, dancei. Joguei meus cabelos ao vento. Pulei. Ri. Alto, quase que gargalhando e por fim, olhando-me no espelho pensei: Não é que isso tudo realmente passa?

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