Memórias

Vejo o sol surgindo entre as arvores ainda encobertas pela escuridão. O silêncio ecoa como um grito de dor, mas não há um ruído se quer entre os túmulos esquecidos que agora me servem como recanto para minha escrita. Me sinto sozinha neste lugar onde os sonhos são sepultados juntamente com os corpos abandonados pela vida, mas meu coração não é o único a bater nessa madrugada fria, há poucos seres que ainda sonolentos choram saudades incuráveis, e confidenciam palavras aos sussurros. Segredos que vão muito além da morte.
O sol aos poucos vai iluminando os sepulcros tristes, e os ventos lançam aromas de rosas brancas pelo ar. Meus olhos não fitam apenas esta folha que serve como desabafo, eles observam toda a melancolia impregnada neste lugar.
Posso senti o invisível tocando o meu ser a cada movimento que o ponteiro do relógio exerce, meu corpo vai ficando mais gélido a cada raio de sol, e as sombras que estavam escondidas por entre os túmulos agora voam com o amanhecer.
Desafortunadas são estas almas, que fazem de seus cânticos noturnos a única alegria da sua morte. Almas que embaralham os céus com suas vestes translúcidas, e possuem na face sorrisos capazes de petrificar os corações céticos. Espíritos tristes que ultrapassam as linhas do tempo, e que agora estão diante de mim como amigos imagináveis de minha conturbada infância já esquecida em devaneios.

Maio de 2012

Comentários

Postagens mais visitadas