Monólogo
Hoje - através de uma surpresa já
esperada -, recebi a visita de uma amiga que há tempos não via. Fiquei radiante
ao vê-la, e convidei-a para sentar, oferecendo-lhe em seguida um café. Era
incrível como o tempo havia passado rápido desde a ultima vez que sentamos para
conversar naquele mesmo local. Senti-me culpada, pois no fundo sabia que era a
minha até então falta de tempo que tinha feito com que nós nos afastássemos um
pouco, entretanto, tínhamos a certeza de que mesmo com todos os súbitos
afastamentos e a minha falta de tempo para comigo mesma não conseguiriam afetar
em nada a solida amizade que construímos ao decorrer dos anos.
-Tenho até as cinco horas para
conversarmos. Disse ela, olhando expressivamente para o relógio em seu pulso e
logo em seguida desviando seus castanhos e conhecidos olhos para mim. –Duas
horas no máximo, é o tempo que tenho!
Não pude deixar de retorcer os
lábios em um descontentamento. Eu queria naquele momento poder usurfluir ao
máximo da companhia rara que se encontrava diante de mim. Havia tantas coisas e
ao mesmo tempo nada para contar-lhe. A minha vida era uma repleta reclusão dos
meus acontecimentos, e eu sabia que no fundo de todas as pessoas que conheci
ela era a única que compreendia até mesmo o silêncio das minhas palavras.
Havia anos que trocávamos cartas.
Eram papeis que continham frases de êxtase, algumas às vezes borradas com
lágrimas, outras, porém, transbordando as linhas em alegrias contidas. Quem um
dia lesse algumas das nossas cartas com certeza não compreenderia as
entrelinhas. Éramos acima de tudo enigmáticas quando se tratava dos nossos
escritos. E talvez fosse esse o ponto máximo que nos ligava e transformávamos
em ser aquilo que tínhamos certeza que não mudaria.
-Achei que teríamos à tarde para conversarmos
sem nos preocuparmos com a hora-
-Admito que também achei isso,
mas houve um imprevisto e preciso resolve-lo. Desculpe-me, sei que não temos
nos encontrado como gostaríamos, e que provavelmente você tem muitas coisas a
me dizer. Prometo-lhe que antes da sua rotina maluca voltar nós duas teremos um
dia inteiro para conversarmos sobre tudo, inclusiva, sobre nada. Ela sorriu.
Tomando alguns goles do café já frio. Retribui o sorriso, porém um pouco
desconfortada com a situação. Teria menos de duas horas para falar-lhe coisas
ainda incompreendidas dentro de mim. Eu sentia a necessidade de ser decifrada,
mas não havia tempo suficiente para isso.
-Eu entendo, apesar de achar um
tanto injusto para conosco. Porém espero que as coisas possam se esclarecer, e
que você consiga resolver seus problemas!-
-As coisas tomarão à proporção
que eu achar que elas devem adquirir. Não a motivos para preocupação. Agora
vamos, diga-me o que te aflige, te faz feliz, e te arranca lágrimas. Quero
saber sobre os acontecimentos dos últimos dias-
Olhei para o relógio pregado na
parede, e ela fez o mesmo.
- Sinto que o meu tempo acabou!
Mas não se preocupe, pois quando vier visitar-me novamente eu a contarei tudo o
que aconteceu, assim como pretendo ouvir suas queixas, alegrias, e frustrações.
–
Ela sorriu aliviada.
- Obrigado por me entender! –
-Não há de quê! Eu sempre a
compreendo!-
Disse por fim.
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