Cecília...



Cecília não queria admitir ou simplesmente não devia. Há tempos que em seu coração brotará frases, textos, palavras que ela, por medo e até mesmo culpa, silenciou entre suas vielas e as fissuras de sua alma. Por vezes sentia-se sufocar por tudo que o silêncio injustamente lhe dava. Era então que nestes momentos, exausta de suas dores, aconchegava-se no chão de seu quarto e entre lágrimas, soluços e uma triste melodia, desabava.
O mar a qual ela tanto escrevia em seus poemas caiam de forma desordenada entre as maças do seu rosto e as folhas amareladas do seu diário. Cecília, então chorava por tudo que desejou e não disse, pelo individualismo que poderia –e deveria – ter, mas que seu coração por ser, talvez, ainda muito lírico e romântico não despertou. Chorava pelas cartas não entregues, pelas noites em que a ausência fez-se desejo e o desejo, uma estranha mistura de amor e saudade. Lágrimas a impediam de enxergar, mas no fundo não era preciso abrir os olhos e ver de fato, ela sabia que mesmo que o amor houvesse engolido qualquer resquício de vida, pois sim, ele engolirá, devorará, apossara-se de tudo e fizera de Cecília não mulher, mas um ser construído de amor, não havia nada além de uma mulher e suas lágrimas a borrar o azul de seus papeis.
Escrever? Sim! Ainda que inútil aos olhos alheios. Escrever o que os lábios não disseram, ainda que os olhos tenham confidenciado. Escrever sobre o amor que brotará num fim de tarde de um mês de invernia e que, fez-se luz, sol, vida. Escrever sobre os sentimentos, as dores, e sobre tudo que o amor lhe trouxe e tudo que ele, dolorosamente arrancou-lhe. Ah, Cecília, se eu pudesse pegá-la no colo, aninhar seus cabelos e conta-lhe lindas histórias com finais felizes, cujo amor, venceu. Quem dera eu, a desacreditada, pudesse por meio de mágica fazer-lhe acreditar que no final o amor prevalece sobre qualquer dificuldade. Mas eu não posso, Cecília.

Deixo-te com tuas lágrimas e com a dor que explode o teu peito ao acordar pela manhã e perceber que nada disso foi um terrível sonho. Deixo-te, menina, com as cartas que não serão entregues, e os dias que mais parecerão a continuidade de uma tortura lenta. Deixo-te com as lembranças que entre lágrimas te fazem ainda sorrir. Deixo-te com o cheiro no travesseiro e a certeza que é ele que tu abraça para dormir e assim, sonhar. Deixo-te, Cecília, na certeza de que o tempo não vai apagar o que sentes, que tu serás amor do início e não falo de um fim, pois tu ainda estás de pé, tu ainda esperas, ainda amas, ainda, Cecília, e para todo o sempre. 

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