Há solidão em cada abraço


Não peço nada. Não que eu queira ser independente ou orgulhosa o suficiente pra mostrar uma superioridade tola. Não é isso! Percebi apenas que o ato de pedir (de mostrar vulnerabilidade) não faz de mim (muito menos de você) um alguém humanamente mais prestativo e atencioso.
Sim, querido! Do que adianta te ligar às quatro e meia da manhã pra dizer que meu coração está em frangalhos, te falar dos meus medos e por fim chorar até sentir que não há mais lágrimas em meus olhos? Tu ouvirás as minhas costumeiras queiras e dirá que vai passar, porque afinal de contas tudo passa certo? Vai dizer que essa é só mais uma daquelas crises e que sempre foi assim comigo, por fim dirá que preciso parar de sentir tanto, porque o mundo não vai mudar por conta do meu coração fraco e vulnerável. E eu ouvirei calada tudo o que você fala. Concordarei. Pedirei-te desculpas pela ligação inconveniente e desligarei. Ouvirei o som do silêncio do outro lado da linha e a certeza de que mais uma vez não fui madura o suficiente pra me reerguer sozinha.
E você, o que pensará ao desligar? Nada. Pois voltará a dormir segundos depois como se aquilo tudo não passasse de um sonho estranho e caótico. Não dirá nada pela manhã, nem a tarde, e talvez nem sequer lembre que em algum momento da noite eu te liguei em pedido de socorro. É, meu caro, o costume de socorrer almas frágeis de fez imune aos apelos. Tu já tens um repertório na ponta da língua. As mesmas palavras de superação. O “não se preocupe, eu estarei ao seu lado” seguido do “tudo ficará bem” não é nada além de palavras aleatórias ditas por uma boca programada a esse tipo de frases.
Portanto, digo que não, não haverá ligações, mensagens ou um sorriso de canto. Não te pedirei abraços nem tampouco desabafarei. Não é orgulho. Não é egoísmo. É apenas cansaço! Não há porque traduzir aos teus ouvidos o que meu coração diz quando meus olhos expõem de forma clara cada um dos meus abismos. Chega de placas, de pedidos. Chega de te pedir pra vir. Não clamarei mais. Não chorarei. Serei a mesma, porém aprendendo a ser o que sou sozinha. Caindo e levantando. Criando monólogos e respondendo a eles próprios.
Não, querido! As placas sumiram. 

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