Retornando aos meus devaneios

Caminho em meio ao sol ofuscante. Minha pele grita de dor, mas minha alma permanece gélida. Há um mistério consumindo meu ser, e agora enquanto vago sozinha entre as brasas minha mente projeta tudo que já vivi. Meu corpo se arrasta em busca de respostas, mas minha alma está em outro lugar. Uma nova época. Agora não a mais sol, meu corpo já não sofre com a alta temperatura.
Estou sozinha, caminho sem rumo em meio às trevas da noite, meu vestido branco agora consumido pela lama está a se arrastar pelo chão daqueles becos úmidos. Não a ninguém ao meu lado, ninguém a segurar minha mão fria. Nenhum ser vivo à interpelar minha alma.
O vento gélido toca meu rosto, bagunçando ainda mais meus longos e negros cabelos. Continuo a vagar sem rumo em meio à noite. Lágrimas escorrem por minha face. Lágrimas de dor. Estou viva? Meu coração bate dentro do peito, mas meu corpo é pálido e gelado como o de um cadáver. O sino toca, minhas lágrimas aumentam. Estou morta em vida. Sou prisioneira do meu próprio desespero.
*   *  *
Como em um sonho minha alma volta a habitar meu corpo, as lembranças brotam em minha mente enquanto meu ser permanece sentado à espera de respostas.
Que seus olhos de águia consigam penetrar em meus sonhos e que tuas palavras de sabedoria façam minha alma revelar seus segredos mais ocultos.
O mistério em tua voz e a mistura de suas palavras cognatas faz meu peito se reprimir em angustia. Preciso que digas o que teus olhos me mostram. Não me esconda à realidade, quando vejo que suas palavras não colidissem com o medo que brota de ti. Mereço saber meu trágico fim.
Mas o velho sábio nada me diz, apenas pede que minha mente esqueça o que já passou. Mas como posso não recordar de algo que minha alma revive todas as noites? Como pode eu interferir na vontade que renasce na inconsciência dos meus sonhos? Sou vitima do meu próprio espírito ô grande sábio. Já não sei se resido nessa vida ou se me deixo levar pelo mistério que me cerca.
Ninguém jamais entenderá o que é viver em anos diferentes e ao mesmo tempo. Já não sei se continuo habitando essa moradia ou se deixo que as forças da melancolia me arrastem para outro mundo onde vago sem destino nem endereço. Apenas tenho lágrimas como refugio e a morte como companhia.

Verão de 2011

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