Nas entrelinhas do passado
Eu já tinha ouvido falar a
respeito dele. Não que eu tentasse puxar assunto com as pessoas a respeito daquele
homem e suas habilidades, pois não era preciso. Todos falavam dele, e isso só
fazia com que a minha curiosidade de conhecê-lo aumentasse cada vez mais.
Foi no começo do mês passado, não
lembro com exatidão a data nem o horário, mas sei que era uma manhã. Uma típica
e monótona manhã de sol ofuscante. As pessoas corriam para seus trabalhos como
se estes pudessem salva-los de si próprio, enquanto eu, sozinha, caminhava com
passos vagarosos até o encontro daquele homem desconhecido, mas que era para
mim uma espécie de mistério bom, quase revelação.
Bati a porta. Nada, não havia ruído
algum do outro lado da madeira. Bati novamente, e novamente o silêncio me
respondeu. Porém, não queria pensar na possibilidade de não conversar com ele.
Bati mais algumas outras vezes. E ouvi passos aproximando-se da porta. Fui
recebida por uma senhora de cabelos grisalhos e sorriso sincero, nos
entreolhamos e ela me convidou a entrar.
A casa era alegre. Suas paredes
brancas transmitiam a paz que eu sempre procurei incansavelmente. Havia algumas
cadeiras, um sofá vermelho, e cheiro de café vindo da cozinha. Ali eu me sentia
bem, enfim os medos cessaram e eu pude ouvir minha respiração se arrastar
levemente por entre meus pulmões, quase como se naquele momento eu pudesse
flutuar.
A senhora me pediu para
acompanhá-la, e foi exatamente isso que eu fiz. Caminhamos lado a lado até um
quarto, e ela me pediu para entrar. E foi lá naquele quarto simples com apenas
uma cama e uma cadeira que eu o vi pela primeira vez.
Ele estava sentado na cama,
vestia uma camisa branca e tinha os olhos fixos no chão. Aproximei-me. Sentando
na cadeira que estava a sua frente. E foi então que diante dele, e no silêncio
dos confessos os meus segredos começaram a se revelar.
“Sei o motivo pelo qual estas
aqui!” Sua voz era uma melodia calma. E suas palavras saiam vagarosamente dos seus
lábios.
“Assim como sei que tu estas aqui
a espera de uma solução que não existe” Prosseguiu. Agora seu olhar buscava incessantemente
meus olhos castanhos, que naquele momento transmitiam toda agonia da minha alma.
“Se de fato sabe os meus motivos que
me trouxeram aqui, então deve entender que não posso continuar sofrendo por
coisas que não entendo. Coisas que me envolvem de uma forma absurda. Estou aqui
por que preciso de ajuda. Não suporto mais enfrentar diariamente as coisas que
enfrento. Sinto-me fraca. E sei que não sou a culpada dessas coisas estarem
acontecendo.”
Agora ele me olhava de uma forma
terna, como se pudesse enxergar além do meu corpo. Como se minha alma naquele
instante estivesse visível aos seus olhos.
“Katherine...” Meus olhos fitaram
seu rosto com espanto, pois naquele momento tornara-se claro que ele sabia
sobre todas as coisas que eu escondia desde o momento em que tudo se iniciou.
“Katherine -Disse novamente- Tudo
que estás enfrentando tem um motivo. Uma razão para acontecer. Tu não sabes da
verdade, ainda. Pois não foi chegada à hora de contar o que te aconteceu, o porquê
das tantas coisas ruins terem acontecido a ti. O que posso dizer-te é que sua
alma ainda está sobrecarregada de sofrimentos e sensações de uma existência triste.
E que tu terás que conviver com isso, pois essas coisas fazem parte de ti. Tu
és o reflexo das coisas que te aconteceram. E acredite, pois se elas aconteceram
foi por que assim estava predestinado.”
Naquela manhã o sol estava
ofuscante, assim como nas outras manhãs que antecederam aquele encontro. Porém
eu não era a mesma dos dias anteriores. Naquela manhã eu não era uma alma
esquecida em meio a tantas outras que me acompanhavam nas ruas, mas sim
Katherine. Eu era Katherine!
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