Silêncio confesso
Olha, Zé! Desculpa se não meu lirismo
não agrada esse teu gosto formal de ser, ou se minhas palavras sempre tão
claras, hoje pouco transparecem o que sinto de fato dentro do peito. Perdoa-me
também pela tristeza estampada, e esse ar de desanimo que, diariamente afasta a
todos, inclusive você. Sei que dirá que são muitos os fatos aos quais você
precisa perdoar, mas peço-te que hoje, por essa noite, esqueça-os e olhe para
mim como se diante de ti estivesse um alguém, cujo amor, transformou.
Ofereço-te um café, pois sei que assim
ficará ao meu lado e diante das minhas palavras, será ouvidos. É a você que
retorno, pois a vida nos fez assim, embora os caminhos –tortuosos- negue-nos. Faço dos teus silêncios o perfeito aconchego
onde posso, sem medo, depositar as palavras, jamais ditas. Não, Zé! Nunca
esperei compreensão da sua parte, mas sei que dedos não serão apontados,
sorrisos irônicos não sairão de teus lábios. Conosco sempre foi uma espécie de
lirismo às avessas. Eu, com minhas absurdas intensidades, você, com seu
silêncio de compreensão.
Por isso, ouve-me enquanto declaro que
amo. Ah Zé, eu amo indescritivelmente. Com minha alma, com a respiração que sai
dos meus pulmões e o sangue que pulsa em minhas veias. Amo como se a vida dependesse
unicamente deste amor, e tudo que existisse fosse, na verdade, o ato de amar.
Amo, Zé! Amo com loucura, saudade, tristeza e lágrimas. Amo com os olhos que
não mentem e com as mãos – que geladas – denunciam o poder do amor sob mim. Reafirmo,
grito, escrevo, eternizo. Amo com a certeza de que a eternidade fez dos meus
sentimentos, atemporais. Dia após dia, semana após semana, amo intensamente e
intensamente sinto o amor apossar-me de tudo que tão verdadeiramente julguei
pertencer-me. Eu amo, Zé, embora não haja palavras que afirmem que o amor tomou
em seus braços minha lucidez, levando-a junto com tudo aquilo que julguei saber.
Perdoe-me pelo excesso, mas sabes que
sou intensidade e que em mim não existem meias águas, afogo-me por completa
entre sentimentos e recuos. Conhece-me, eu bem sei. Teus olhos vêm o quão estranho
a vida tornou meus dias. E entre teus goles de café e minhas confissões,
vejo-te assustado, pois sabes, que o
amor (aquele a qual escrevíamos apenas para sermos poetas de finais de noite)
tomou minha essência, transfigurou minha alma, roubou-me, inteiramente de mim.
Por isso é a ti que desnudo minha alma e nua, mostro-me como um alguém que ama
e que sente o quão eterno esse amor tornou-se.
Perdoe-me pelo pessimismo exagerado, mas
digo-te com uma exata certeza que não, esse amor não apagara-se . Embora o
tempo tudo cure, como afirmam alguns, eu bem sei, ou melhor, bem sinto, quando
meus olhos o vêm que é nele que está a razão pela qual, todos os dias, eu
continuo. É com ele, Zé, que meus devaneios de um futuro à dois são escritos.
Quando durmo, é com ele que tristemente sonho. E embora doa, e embora chore, e
embora a saudade rasgue minha alma e me faça mil pedaços, é quando ele sorrir
olhando para mim, que sinto, todas as minhas estruturas desfazer-se e entre o
frio da barriga, as mãos geladas e os olhos que envergonhados não o fitam, que
percebo, eu o amarei por toda a eternidade.
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