Metades...
Quisera que as palavras pudessem expelir
o travo que se apossou do meu peito, e que hoje, suficientemente grande,
impede-me de respirar. Letra por letra, preenchendo linhas, eternizando
silêncios, fazendo de rimas, poesias que embora líricas, não quebram meu travo,
não me fazem voltar a respirar, não...
Do que adianta tudo isso? Noites e
noites acalentada pelas quatro paredes do meu quarto, escrevendo sobre dores que
escondo com risos forçados e uma alegria inexistente. Vamos, silêncio, você que
de fato me vê além do que exponho ao mundo, que conhece tudo que guardo, sabe
das minhas dores, dos meus gritos entrecortados pela madrugada, e das vezes que
pensei (e quis) desistir, diga-me se assim puder, do que adianta escrever se no
final destas linhas permanecerei a mesma solitária fingida que sorrir enquanto
lentamente sente sua alma despedaçar? Vamos, diga-me, ainda que saibamos que
você não pode, não mais...
Pois metades não preenchem uma alma, e
tudo que hoje sou é fragmento de dores, mágoas e ausências. O mundo não me cabe,
talvez nunca, de fato, eu tenha tido uma chance de verdadeiramente pertencer a
algo. Desacreditada, quebrada, sinto que escrever, embora esvazie, perdeu o dom
de aplacar minhas dores e secar minhas lágrimas. Metades, como diria a música.
Eu sou a metade de um ser que não consegue sequer acreditar na própria sombra
que a acompanha.
Vai passar, eles dirão. Vai passar,
dizem os livros. Vai, sim, passar, afirma o médico. E minha alma grita em
desespero afirmando que todos mentem, que a dor é eterna, que serei para sempre uma
metade de alguém que já não é nada.
Quanto a escrever, quisera eu sentir que
essas linhas me refletem. Quisera eu fazer parte da minha alma. Uma alma de metades...
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