Domingo


Olha, vem aqui. Senta comigo e toma o resto desse vinho barato que, por infelicidade, estava na geladeira e que, no âmago da minha tristeza, tomei alguns goles e agora não sei se te escrevo ou se falo  que há olhando esses teus olhos de abismo tudo que me dói e rasga a alma. 
É que você por muito tempo ocupou um lugar de luz na minha caótica existência de mulher que não sabe direito o que fazer com o buraco no peito. Você me compreendia, entende? Mesmo quando eu não entendia direito como existir e resistir. E, principalmente, você abraçada minhas estranhezas e complexidades, amando até aquilo que eu não achava ser possível. 
Eu sei que tudo parece repetitivo demais, eu sei. Sei também que já te falei isso tantas e tantas vezes... Mas é que estar aqui, longe, enquanto você finge que não me quebra todas as vezes que não me responde e sorrir nas fotos que, tristemente não estou nelas, é fazer sangrar sob todas as coisas que fomos e hoje já não mais existe. Você entende? Sente? Você também sente falta do nosso para sempre? 
Vem, por favor e só mais uma vez vem e senta aqui, vai. Só por um segundo, só por uma vida. Eu prometo que dessa vez seremos nós como nunca conseguimos ser. Prometo amor. Prometo cuidado... Prometo! Toma só mais um pouco desse vinho que quase não mais existe porque eu quero afogar você e essa droga de amor medíocre que mais parece uma doença a consumir todo meu ser. Toma, vai. Afoga-se neste mar de lágrimas e incompreensão que tornou-se meus dias desde que você acreditou ser melhor não mais estar, não mais ser. Senta aqui nesta mesa suja de vinho e fotos rasgadas. Me diz só dessa vez que ficaremos bem, que seremos nós, que você acredita. 
Afinal, você acredita. Sim?
Vem! E me diz que vale a pena estar no fundo do poço, porque você virá, porque você me salvará. Vem. 

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