Erro de fábrica


Inocente demais para um mundo programado a esperteza, há quem diga que ela nunca esteve pronta para suportar as quedas da vida, muito menos o vazio nascido de algumas ausências. A vida, de fato, sempre machucou-lhe em exagero. Sentia demais. Sofria, muitas vezes em antecipação, e deixava-se enevoar por lágrimas e finas pontadas no peito, como se ali, no êxtase do seu sentir, tudo fosse apenas parte de uma escuridão que lhe sussurrava inúmeras e dolorosas confidências.
Enquanto todos sabiam lidar com a vida, ela vivia aos tropeços, caindo vez ou outra, com os joelhos ralados e as mãos sangrando. Caía na maioria das vezes e deixava-se ficar, inerte, sob o duro chão da realidade. No entanto, de nada servia-lhe as quedas, já que ela nunca aprendia com seus arranhões. Acreditando num lado bom muitas vezes inexistente.
E ainda que todos que a amavam tentassem –inutilmente- alerta-lhe que a vida era dura, que o amor, muitas vezes, sangrava e que acreditar é um ato perigoso e requer força, ela não deixava-se intimidar, pois no fundo acreditava naqueles amores primaveris, onde absolutamente tudo se é superado e distância alguma ultrapassa a barreira da reciprocidade.
Doce ilusória menina, diziam eles, ao olhá-la com seus olhos de pena e incompreensão. O amor machuca. O amor sangra. O amor, menina, causa traumas que permanecem por toda uma vida. Você deu seu coração e sem medo entregou tudo que havia de melhor em ti, mas olha que ironia, nada disso foi suficiente e hoje você chora entre cacos de uma existência quebradiça.
A vida é uma mescla constante entre dores e abandonos, agora teu corpo sente o que diziam os realistas, quando você, encantada, falava de amor. Dói. Machuca. E você se sente o pior ser humano que existe, eu sei.
As lágrimas me dizem isso.
Me dizem que não vai passar.
            Nós sabemos.   

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