Desconstrução
Sinto
as lágrimas invadirem meus olhos, antes mesmo de chorar. O travo na garganta, o
nó no peito, sinto minha respiração esvair-se à medida que meus pensamentos
voam para lugares que eu adoraria nunca ter que visitar. E não, isso não é algo
que eu possa mudar.
As
coisas acontecem assim, rápido, imperceptível, dolorosamente assustador. Primeiro
as mãos, os tremores, o frio que vêm da alma e toca os dedos. Depois o choro, o
peso no peito, a angustia de estar vivo, de sentir cada uma das tantas
sensações que penosamente saem da alma e se alojam no corpo. E embora o tempo
transcorra em seu ritmo “normal”, nestes momentos sinto que os ponteiros param,
o dia escurece e tudo passa a ser aquele momento. Aquela dor.
Esconder-se?
Não é a solução, embora as portas sejam fechadas juntamente com as janelas. A
cama torna-se um ninho, abrigo, mas isso, infelizmente não é suficiente. É uma
dor que toma proporções inimagináveis e me faz desejar abrir um buraco chão
adentro e lá esconder-se do mundo. Vozes alheias irritam. Mensagens causam impaciência.
Abraços ao contrário de acalentar, esmagam. E qualquer um que diga, afirme e
até mesmo profetize uma cura, causa-me impaciência.
A
solidão, no entanto está lá. Ouve os lamentos sussurrados entre lágrimas e
incompreensões. Abraça-me longe de olhares piedosos em que a minha fraqueza é
nitidamente exposta. Não há culpas, fingimentos. Não há uma preocupação
revertida de piedade. Compreendemos-nos antes mesmo de sermos palavras, pois
sentimos. Além da minha dor, do meu desespero e oco, a solidão vê o que restou
dos fragmentos de uma alma autrora inteira e compreende que eu não preciso
fingir estar quando já fui embora.
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