Eu só queria ser ouvida...



Olha mãe, vem cá, senta aqui de mansinho e ouve o que tenho a te dizer. Não, por favor, não tente, deixe que eu fale, permita-se ouvir, e me deixar desengasgar. Eu sei que as coisas parecem difíceis agora e que o tempo correu rápido demais, quando me transformou de uma menina para uma mulher que hoje tem convicções e sabe exatamente o que deseja da vida.
Não, mãe, não me entenda mal. Você tem sido o ser mais maravilhoso que já existiu sobre esta terra de gente árida. Vem cá. Olha bem pra mim, isso, mãe, me observa. Vê o quanto eu cresci? Isso não quer dizer que não precise de você, mas afirmar que hoje suas pernas também são as minhas e seus pensamentos, os meus.
Eu entendo que algumas coisas são complicadas, eu sei por que no meio de todo o furação você esteve lá, você segurou minha mão. Aliás, não somente minha mão, você costurou minha alma e estancou meu sangue. Isso, mãe, eu nunca esquecerei.
Das nossas noites mal dormidas. Dos seus olhos a me velarem. Do seu cuidado, mãe, mesmo quando eu, já eu não era a menina do nosso conto de fadas. Cresci, sim, amadureci, sim. Aliás, dia após dia amadureço com meus erros e minhas doses de aprendizado. Não há respostas para esse teu olhar interrogador quando me questiona se tem sido fácil. Eu estou aqui, sobrevivendo...
Sinto-me uma vitoriosa.
Sinto-me sua filha.
Então por favor, só dessa vez me ouve, só por hoje me enxerga. Você melhor do que ninguém sabe que o que sou vai além das meias dúzias de burburinho de toda essa gente que nunca teve o peito tão cheio de amor ao ponto de quase não se sentir humano. Me ouve, mãe. Eu te peço somente isso. Aliás, tudo que te peço é que você veja o sorriso que nasce em meus lábios quando meu nome é pronunciado pelos lábios dele.
Você consegue enxergar?

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