(In)certezas
Olha
moço, sei que as coisas têm andado meio estranhas, e que vez ou outra a saudade
aparece na sua porta como uma velha amiga a pedir abrigo, sei que abre, que
conversam e que você mostra nossas fotos, aquelas em que estamos abraçados,
sorrindo e exibindo uma felicidade plena.
É,
moço, o tempo –aquele escritor de partidas e chegadas - transcorreu
rapidamente, e hoje estamos aqui sob uma distância de mares a ocupar a mesma
cidade. Estranho vê-lo mas não encontrá-lo. Não, não me leve nem me julgue mal,
mas é que o moço do sorriso largo não é o mesmo que hoje sorrir para fotos tão
mecanicamente. Não consigo encontrá-lo. Sei que está perto, que anda e que
talvez continue a fazer as mesmas coisas de autrora, mas algo mudou em seus
olhos, pois o negro brilho que me encantava fora trocado por um borrão sem cor.
Mas
não, peço que não se preocupe, pois não vou perturbá-lo com meu cuidado
demasiado exagerado. Não, moço, pode continuar a andar pelas ruas com seu
sorriso grande e falsamente feliz, eu sei, ou melhor, nós sabemos o quão falso
ele é. Continue, dance, divirta-se, e se apaixone, o mundo está aos seus pés e
você é dono de sua alma, use-a como quiser. Mas eu sei que nos últimos minutos
de seu dia, aquele em que você deita a cabeça no travesseiro e respira
aliviado, sua mente projeta meu rosto e você ouve minha risada alta, exagerada.
Você pensa no que poderíamos ter sido, nos planos e nos momentos em que vivemos
juntos, e afirma, ainda a contragosto que nenhum outro amor será tão forte,
intenso e sim, exagerado –pra combinar com meu jeito de ser- do que o amor que sentimos um pelo outro.
E então você dorme.
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