Fantasmas de uma noite nostálgica
O que seria das minhas palavras
se não fosse à saudade de preenchê-las com algo lúcido? Vejo a minha volta um
mundo que já não existe, e sinto uma absurda necessidade de reviver em minhas
lembranças as pessoas de autrora como fantasmas de uma noite de Halloween.
Saudade. Sinto, pois este
malogrado sentimento de solidão apoderar-se dos meus pensamentos como se todo o
meu ser fosse a continuação do que não existe. A absurda e até então viciante
necessidade de estar a ouvir melodias que muitos não ouvem mais, talvez por não
lembrarem que um dia tais sons embalaram nossas eternidades. Permaneço como se
tudo a minha volta continuassem a exercer os mesmos fascínios de três anos
atrás. Fico na solidão de ser a última das almas a guardar nas lembranças o que
por infelicidade foi quebrado.
E estou a cultivar lembranças,
pois de tudo que poderia ter ficado apenas elas permaneceram. E vejo, na
solidão do meu quarto, felizes fantasmas vestidos com negras vestimentas a
comemorar o sabá. Elas sorriem, mal sabendo que os ventos que as trouxe seria o
mesmo que as levariam embora.
E hoje, depois de passados três
longos anos, estou sozinha a escrever as lembranças que me atormentaram durante
o dia. Em cada fragmento do meu ser encontro o rosto delas. A felicidade
incompleta, a necessidade de ouvi-las, e a doce decepção de perceber que estou
na solidão das lembranças felizes. Amargamente sozinha na nostálgica solidão de
mais uma noite em que seus alegres fantasmas estão a me perturbar.
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